Avançar para o conteúdo principal

amor e uma máquina de lavar roupa (ou o fim do amor e uma cabana)




hoje, em conversa com uma amiga, cheguei mais uma vez à triste conclusão de que todas as relações amorosas, as boas e as más, e mesmo as mais ou menos, têm em si algo de terrível, que é o seu fim.

mesmo as más, quando terminam, são sempre o fim de um qualquer projecto comum que não resultou e que trazem por isso sentimentos de culpa, fracasso e tristeza.

lembrei-me também da importância de um casal que coabita lavar a roupa na mesma máquina de lavar, como se a máquina fosse o lugar onde os dois (ou os três ou quatro) se misturam, sujos, e se purificam, em conjunto. por isso sempre que havia tensões a dois, a roupa dele era posta de lado, enfiada num saco e enviada para a mãe.

não quero misturas. a tua roupa suja és tu e eu não quero misturá-la comigo, na máquina da purificação.

um dia, ele fartou-se de não lavar roupa suja e saiu de casa, e ela ficou com saudades de ver as suas roupas misturadas e penduradas ao lado uma da outra a secar. e então só conseguia pensar no lugar onde, um dia, as suas peças e as dele estivessem penduradas ao sol lado a lado, depois de lavadas e misturadas e purificadas em conjunto.

aquela roupa lavada somos nós os dois - lavados, estendidos ao sol, juntos, prontos para um novo ciclo.

lavar a roupa suja é também trazer à superfície problemas antigos dos quais nunca se falou, e que por isso ficaram incrustados e custaram a sair e nunca saíram. nódoas e manchas que nem a máquina mais potente consegue fazer desaparecer. por isso ninguém gosta de ouvir falar em lavar roupa suja.

vamos lavar os nossos problemas, perguntou. vamos lavar roupa suja?

sim, vamos, respondeu. mas só se for na mesma máquina de lavar. a minha roupa e a tua, juntas.
(até ficarem outra vez sujas, e sejam logo logo lavadas em conjunto, para que tudo possa começar de novo, a tempo das nódoas não ficarem para sempre. para sempre, só mesmo roupa lavada e estendida ao sol, juntinha, lado a lado, amigas e companheiras, como nós)

parece-me muito bem - vamos sempre lavar a roupa a tempo de não se estragar.
uma vez tu, outra vez eu, para não fartar.

Campeã, 26 de Agosto de 2008.

Comentários

Unknown disse…
Que lindo! Adorei. É isso... vamos lavar a roupa suja sempre que for preciso, em casa e aos pequenos montes que é para o cesto não transbordar, que é para a nódoa não entranhar e para não ser preciso botar roupa nenhuma fora. De preferência, vamos lavar com alvejantes delicados que retirem a sujidade, mas mantenham as cores vivas ;)

Mensagens populares deste blogue

Anna

Anna , a photo by cochinilha on Flickr. É a única vestida de preto entre as meninas de branco do mesmo grupo. É linda e o seu olhar intenso parece querer dizer algo. Não sei o quê, mas gostava muito de saber. A prova é tão grande que não cabe no scanner. É uma recordação das Pedras Salgadas (o que se queria recordar, pergunto?), fotografada também por uma menina, certamente mais velha do que estas, chamada Anna Magalhães Rodrigues. A Ana fotografou em Trás-os-Montes no início do século XX e há alguns postais ilustrados com fotografias suas. © colecção particular da família Botelho de Miranda

Heróis do Homem e Cávado: Braga, Coimbras de Braga

Heróis do Homem e Cávado: Braga, Coimbras de Braga : No instrumento de Intituição ao Morgado de Nossa Senhora da Conceição, datado do ano de 1530, que o Doutor João de Coimbra, tinha licença... Boa tarde! Publica neste artigo uma curiosa fotografia em que se vê a primitiva casa dos Coimbras. Sabe-se data e autoria da imagem? Obrigada!

talha & fruta = delicious!

... , a photo by cochinilha on Flickr. Existe em Braga uma capela que abre uma vez no ano, para celebrar o Dia de São Geraldo, padroeiro da cidade. Junto à porta lateral da Sé, que dá para a rua do Souto, passando o Claustro de Santo Amaro, fica a capela de S. Geraldo, que neste dia se adorna de frutos, em alusão ao milagre da fruta . ( azulejos atribuídos ao pintor António de Oliveira Bernardes)