terça-feira, 30 de junho de 2015

rapariga do primeiro

A um segundo de estacionar o carro, depois de uma rua limpa, ele pergunta a um carro que sai, então, onde é que é. Uma voz masculina responde da torre que é no quarto andar, mas o do carro disse que era uma rapariga no primeiro. Então, como é que é, pergunta, titubeante, com uma súbita mudança de tom de voz. Mais máscula, mais forte, mais pronúncia do Norte. E o passo apressa.
É a rapariga do primeiro. Anda, segue-me. Não ouve a conversa. O coração bate forte. Uma mão estendida para o tio. E gente à volta. Toma lá. Dá cá. Caneco, não há caneco. Ninguém tem um caneco por aí? Arranja-se já! E a moça, não quer? Não, obrigada. Uma simpatia de corpo que quase não é corpo, nem de homem, de mulher. Unhas pintadas de vermelho, pernas palito, pés inchados que arrastam o chinelo. Cabelos compridos. Resto de cara de... mulher? Então tio, é da boa, pergunta a rapariga do primeiro andar que subiu e desceu as escadas e que se pôs a espreitar para baixo. Não há cinza? Pera lá, vou acender um cigarro. Foda-se, amanhã trago prata para vender. Isso é que é negócio! E cinza! Entre uma, duas, três, quatro ou cinco pessoas que se arrastam a passo rápido à procura de mais, o cão peludo insiste nas pedras da calçada. Do que é que está à procura? É um rato, caralho! Foda-se o caralho do cão não larga os calhaus!
Uma para ti, uma para mim. Compra-se cinco, fuma-se duas, dá-se três. E uma moedinha. Deixa o tio, foda-se, oube lá! Num tenhe!


© Paulo Pimenta




















you can look at our bodies, but you can never see our spirits


© Nelson d'Aires













aleixar * afastar-se * distanciar-se


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