sexta-feira, 30 de novembro de 2012

convertida

Convertidas, Novembro 2012.










Cheirava a álcool, estava velha e encarquilhada.
A mentira, a raiva, a vergonha tinham dado cabo dela e impregnaram o seu corpo, o que é o mesmo que dizer que o estuque e a tinta do tecto pendiam como estalactites do seu rosto magro.
Ultrapassei os meus limtes e tenho de me preservar, she said.
Sem filhos, é muito fácil. É só dizer: A Deus!


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

projectar convertidas

Convertidas, Novembro 2012.

O Recolhimento de Santa Maria Madalena e de São Gonçalo (XVIII), mais conhecido como Casa das Convertidas - classificado como Monumento de Interesse Público há um mês atrás - foi tema de debate da primeira iniciativa da associação Braga Mais. Centrado no destino a dar ao edifício, o debate contou a presença de Hugo Pires (vereador, pelouro de Gestão Urbanística e Renovação Urbana), de José Araújo (ex-governador civil), de Manuela Sá Fernandes (do Grupo Gonçalo Sampaio) e de Carlos Aguiar Gomes (da Associação Famílias), para além duma plateia de cidadãos anónimos e de figuras políticas de vários quadrantes. 

Espero que este tenha sido o primeiro de muitos, sobre o edifício, e que a solução para travar o seu desabamento não seja movida por outros interesses que não o da sua salvaguarda. A importância do edifício exige-o.

Para satisfazer a sua função original - a do recolhimento de mulheres arrependidas dos seus erros, e convertidas a Deus - o edifício foi concebido em torno de um pátio interior, para o qual estavam voltadas as celas e demais dependências. Um edifício voltado para dentro, de costas voltadas para a rua.

Fazendo perdurar a função social para o qual foi concebido, o edifício foi habitado até há cerca de 10 anos por mulheres idosas, carenciadas. O resto da história já se sabe. Discute-se agora o fim para o qual deverá o edifício ser convertido. Confesso que tenho muito medo do que venha aí (medo, principalmente, dos incêndios).

A tipologia do edifício permite que aí se instalem equipamentos de cariz social, como um lar, sim senhor, mas não serviços técnicos administrativos ou mesmo um museu "qualquer" - seja da história da cidade, da cultura imaterial ou do folclore.
Poderá funcionar como pousada, se e apenas se, a reabilitação do edifício se fizer de acordo com os princípios que tutelam a conservação e restauro dos bens móveis e imóveis: o respeito pelo original, a intervenção mínima, a compatibilidade de materiais e o da reversibilidade.
(e não digam que 5 metros quadrados não chegam para pernoitar)

Não faltam em Portugal exemplos bem sucedidos duma intervenção deste tipo (de que o Mosteiro de Tibães será apenas um dos casos) que permitiriam aqui manter a sua função de cariz social (recolhimento) e religiosa (capela), assim como preservar a história da memória da intimidade feminina.

Consultem-se os investigadores da história da cidade (e das mulheres) e os peritos da conservação do património, peça-se autorização para consolidar estruturas para que o edifício não esmoreça, devolva-se a vida à capela (entregue-se a capela à Igreja!), ouçam-se os cidadãos.
Solicite-se ao MAI a tutela do edifício, não sem antes garantir condições para cuidar desta pérola preciosa.

Convertidas, planta do 2.º piso.




segunda-feira, 26 de novembro de 2012

birdies

home sweet home, a photo by cochinilha on Flickr.

Depois dos Birds Are Indie terem encantado quem os viu e ouviu na Velha-a-Branca, lembrei-me desta instalação que está no Museu dos Biscaínhos, cá em Braga, de uma biblioteca para pássaros, no ramo de uma árvore. Sítio perfeito para namorar, ouvir, observar, cantar, ver os pássaros pousar... ou ouvir esta delícia.





"Birds Are Indie são um rapaz e uma rapariga que se apaixonaram há 12 anos.
Nenhum deles sabe cantar ou tocar particularmente bem. Ainda assim, cantar e tocar, parece fazer-lhes bem. É um projecto absolutamente pouco profissional, rudimentar, pouco afinado, nada virtuoso, mas cheio de amor."

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Casa Pelicano

Casa Pelicano, 1940.







Em 2005, Maria Teresa Pelicano doou o espólio do estúdio de seu pai, a Casa Pelicano, ao Museu da Imagem da cidade de Braga.
A Pelicano ficava ao largo Barão de S. Martinho, ao lado da Brasileira. Para além do serviço próprio de um estúdio fotográfico profissional, a Pelicano vendia material para a fotografia e revelava e ampliava as experiências dos amadores.
Na Casa Pelicano trabalhou o fotógrafo Arcelino.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Piano, piano, si va lontano...

Convertidas, Novembro 2012.
Por mais do que uma vez nos referimos aqui a uma antiga tendência da cidade de Braga em desprezar o passado e o que resta dele, assim como às obras de requalificação urbana que estão a ser realizadas na cidade.

Hoje, a propósito de mais um pertinente artigo publicado por Eduardo Pires de Oliveira no Diário do Minho, deixamos os conselhos da redacção do Comércio do Minho, de há 101 anos.

Recomendava-se prudência na empreitada do progresso para a cidade, para o qual se devia “caminhar cautelosamente, com a consciência segura de que cada passo a dar é o melhor, e não cegamente ou sob a obsessão de uma ideia incompletamente amadurecida”.
O grandioso casarão (obra de Marques da Silva que devia servir as repartições públicas) via-se condenado pela impropriedade do local, o edifício para Theatro Circo, em construção na cerca dos Remédios era mal visto por alguns; o edifício da cadeia, incompleto, aborrecia a outros, que o não queriam ali:


"Que espírito de previdência foi o nosso, que não calculou os prós e os contras antes de emprehender taes obras?
Que confiança podemos inspirar quando pedirmos alguma coisa ao poder central, depois de termos dado provas de tanta versatilidade?
Que garantias podemos offerecer de que pedimos o que mais nos convém, se até aqui não temos sabido pedir?
Cuidado, pois. Mesmo no arrazar é indispensável prudência.
Para a frente, mas devagar, para não se ter de voltar atraz e perder caminho.
Devagar, para ir longe.
Pianno, piano, si va lontano.
Nada de precipitações, que mais tarde trazem o arrependimento.
Arrazem-se! – gritam.
Ora para se chegar a tal conclusão, não era preferível não os ter começado?...
Agora, depois de tanto dinheiro gasto, ha-de ficar todo o trabalho inútil? Arrazar, arrazar depressa; depois é preciso edificar, substituir; para isto, requer-se dinheiro; para o obter, exige-se credito; para gosar d’este, demanda-se capacidade administrativa.
Ora se nós localmente dermos testemunho de incapacidade, nem o governo, nem ninguém terá confiança no nosso destino, e as solicitações que fizermos não encontrarão boa acolhida.
Se queremos progredir a valer, havemos de caminhar devagar, com juízo, com methodo. Concluída uma obra, iniciaremos outra, e assim successivamente.
Tudo a um tempo, não póde ser".

sábado, 17 de novembro de 2012

viver bem

Andar, dormir, trabalhar, comer, beber, falar, escrever, fazer, contar, estimar... e fumar!

Diário do Minho, 1927.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

SMS na revista de Guimarães

 sede da SMS


A Sociedade Martins Sarmento disponibiliza na rede uma série de artigos em pdf sobre a SMS que foram publicados na Revista de Guimarães - uma das mais antigas e prestigiadas publicações periódicas portuguesas de carácter científico, que se publica desde 1884.



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

ruge-ruge



ruge- ruge
in exposição de instrumentos tradicionais portugueses



Noite cerrada, saía da igreja da Misericórdia a procissão das Endoenças.
Pouco a pouco, apagadas todas as luzes no interior das casas, as varandas e as janelas iam-se enchendo de figuras escoadas a medo na tinta da noite.
Mas já ao longe se ouvia um estranho vozear de multidão e incertos fogachos de lumieiras se agitavam, sinistros, na treva espessa: era a ronda dos fogaréus – temido bando popular, precedendo a procissão, que tinha a essa hora de severas contas o inaudito direito de acusar uma cidade inteira...
Por isso as almas, as mais lavadas, estremeciam ao sentir aproximar-se esse Bando do Pavor, permitido pelo alto clero com o fim de, à falta de denúncias à inquisição, ser ele, uma vez no ano, o pelourinho andante das mais escondidas vergonhas.
Passado o bando e extinto ao longe o último sussurro da turba atroadora, a contrastar com essa algazarra, aparecia, solene e fúnebre, a silenciosa procissão.
Empunhando tochas passavam os irmãos da Misericórdia (de um lado os nobres, do outro os plebeus) cobertos com os capuzes das suas opas negras... passavam farricocos vestidos de roxo com cordas à cintura e pés descalços.
E tudo era lento e silencioso; somente, de onde em onde, se ouvia taramelar o estrondoso ruge ruge, chamando à penitência os que não tinham ainda ido à desobriga da confissão quaresmal!
E as almas, meditando em seus pecados e na morte certa, penetravam-se de medo!

(adaptado de Antero de Figueiredo)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

amor em tempo de guerra

Ilustração Portuguesa, Abril de 1917.
Joshua Benoliel

À partida para França: uma despedida afectuosa, é o título desta imagem que foi capa da Ilustração Portuguesa. Foi feita em 1917, no meio de tantas outras que representam a partida dos soldados portugueses para a guerra e que enchem as páginas da Ilustração: da Portuguesa e da Católica.
É um crop da fotografia do mestre Benoliel, porque são estes dois que me interessam.
Não terá sido encenada, mas levou-me para o beijo do Hotel de Ville.
É um casal. Um casal em tempo de guerra.
Não, não é paixão, é amor. É medo de perder.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

leram ou não leram?

Há 101 anos atrás, em resposta à pronta acção do governo provisório em promulgar medidas que afastassem a Igreja do Estado, os Bispos redigiram uma pastoral que deveria ser lida ao clero e fiéis na missa dominical. Escrita em dezembro de 1910, publicada e divulgada em fevereiro de 1911. As autoridades não gostaram e pediram aos Bispos que suspendessem a leitura do documento. Uns leram, porque não tinham recebido a contra-ordem de quem de direito, outros não leram porque acataram a ordem de Afonso Costa, outros leram porque quiseram, e António Barroso demorou a suspender a leitura da pastoral em toda a diocese do Porto. António, Bispo do Porto, limitou-se a suspendê-la dentro dos limites da cidade... o que lhe valeu o desterro durante dois anos.

sobre a Pastoral Colectiva do Episcopado, fevereiro 1911.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Júlio António de Amorim Lima



retrato da família de Júlio Amorim Lima.
Photographia Alliança, Braga, 1916


in Aliança Pixit, rubrica semanal publicada no
Correio do Minho, ano 75, n.º 7683 (28 Nov. 2009), p. 14.





sábado, 3 de novembro de 2012

fotógrafos, títeres e outros sonhadores


No início de 2010 a cidade de Évora teve a oportunidade de conhecer a história da sua cidade por intermédio dum projecto educativo pensado pelo Arquivo Fotográfico Municipal: um espectáculo de marionetas intitulado “Fotógrafos, Títeres e outros Sonhadores, Évora e a História da Fotografia”.



 

Jean Laurent e o seu carro-laboratório.
© António Carrapato
Breve resenha dos momentos e figuras ligadas aos primeiros anos da chegada da fotografia a Évora, o espectáculo teve por base algumas das figuras típicas dos Bonecos de Santo Aleixo às quais se juntaram alguns dos pioneiros da fotografia.
Ulisses d’Oliveira, um dos primeiros fotógrafos viajantes a fixar-se com regularidade em Évora, Jean Laurent, exemplo da passagem pela cidade dos grandes fotógrafos estrangeiros e Maria Eugénia Reya Campos - que se intitulava a "primeira mulher phographa portuguesa", entre outros.

A concepção do espectáculo inspirado na tradição dos títeres alentejanos (marionetas de pau e arame) foi da responsabilidade do Arquivo Fotográfico Municipal, juntamente com o marionetista Manuel Dias e o apoio da Estação Imagem e da Companhia de Actores dos Bonecos de Santo Aleixo.

Deste feliz "encontro" entre titeriteiros e daguerreotipistas, ambos profissionais ambulantes, ficou memória AQUI.


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

terceira

"A fotografia terá surgido nos Açores por intermédio de estrangeiros quando
realizavam  viagens  pelas  principais  ilhas.  No  caso  da  ilha  Terceira,  as  primeiras
referências conhecidas reportam à passagem de um estrangeiro pela cidade de Angra
que fazia retratos pelo processo de Daguerre, na Rua do Cruzeiro, em 1846"
Carlos Enes



Lançamento a 29 de outubro de 2012. 
Que pena os Açores ficarem tão longe!

Publicação em destaque

as fontes discretas

já no distante ano de 2009, Maria do Carmo Serén publicou um artigo sobre a minha tese de mestrado, a que chamou de " as fontes discre...