quarta-feira, 28 de março de 2012

isci

© Francisco Martins Sarmento | SMS
Em Setembro de 2011, lia-se na net que "a actividade de Sarmento como fotógrafo é pouco conhecida. Tendo iniciado os seus ensaios em 1868, viria a transformar a fotografia num importante instrumento do seu trabalho de arqueólogo quando, a partir de meados da década de 1870, se dedicou à exumação das ruínas de Briteiros. Será, aliás, através de dois álbuns fotográficos que Sarmento chamará a atenção dos especialistas do seu tempo para a importância das suas descobertas na Citânia de Briteiros".



Hoje, através da exposição comissariada por Eduardo Brito, bem como do catálogo da exposição desenhado por Cláudio Rodrigues - que publica os cinco cadernos em que Martins Sarmento faz o relato do dia a dia dos seus estudos e ensaios fotográficos (1868-1876) - ficamos a conhecer melhor Francisco Martins Sarmento fotógrafo, pioneiro no emprego da fotografia como processo de registo das descobertas arqueológicas.
 


Aconselhamos vivamente uma visita à [SMS] Sociedade Martins Sarmento até domingo, 8 de Abril. Para aqueles que não podem sair de casa, está aqui o link para visualizar outra parte da sua obra - manuscritos e artigos de intervenção que publicou na imprensa.






O Fotógrafo Martins Sarmento
MARÇO 9—ABRIL 8

[SMS] Sociedade Martins Sarmento,
Rua Paio Galvão, Guimarães. Terça a Domingo. Entrada Livre.

domingo, 25 de março de 2012

a água

Passam hoje 130 anos desde a inauguração do elevador do Bom Jesus, "o primeiro ascensor construído na Península Ibérica e, actualmente, o mais antigo do mundo em serviço, funcionando por contrapeso de água" - concebido e projectado pelo empresário Manuel Joaquim Gomes, sob a direcção de Riggenbach e Mesnier de Ponsard.

A Confraria do Bom Jesus do Monte assinala a data com romagem ao cemitério às 11h (campas de Manuel Joaquim Gomes e António Brandão Pereira), inauguração da exposição ‘Plano Inclinado - 130 anos do Elevador do Bom Jesus do Monte’ às 15h30, missa campal às 17h e concerto às 18h (com a cantora Lysa, tetraneta de Manuel Joaquim Gomes).



das 08h às 20h | 7 dias por semana
viagens de 30 em 30 minutos
(cerca de 3 minutos de duração)

© catarina wheelhouse

quinta-feira, 22 de março de 2012

de passagem


p a i
© catarina wheelhouse
Às dezassete horas e quarenta minutos do dia vinte e cinco de Outubro do ano mil novecentos e trinta e sete nasceu na rua Tenente Espanca, nove, primeiro, da freguesia de São Sebastião da Pedreira da cidade de Lisboa um indivíduo do sexo masculino a quem foi posto o nome próprio de José António e de família Guerra Basso Marques, filho legítimo de Jaime Wheelhouse Basso Marques, de vinte e três anos de idade, no estado de casado, de profissão primeiro sargento cadete, natural da freguesia de São Lourenço, concelho de Portalegre e de Georgina da Conceição Gonçalves Guerra Basso Marques de vinte anos de idade, no estado de casada, de profissão doméstica, natural da freguesia de São Pedro, concelho de Évora, domiciliados em Portalegre, neto paterno de Jaime Basso Marques e de Miquelina Georgina Wheelhouse Marques e materno de José Carlos Gonçalves Guerra e de Francisca Barbudo da Conceição Guerra.

* A declaração de nascimento foi feita pela mãe, porque o pai se encontrava em Portalegre. Foram testemunhas do registo, os quais declararam querer ser padrinhos Carolina Hipólita da Conceição Guerra, tia materna, solteira, maior, doméstica, domiciliada na casa onde se deu o nascimento e José Carlos Gonçalves Guerra, avô materno, casado, oficial principal dos Correios, domiciliado na mesma casa. Exactamente um ano antes, na casa onde nasceu, haviam seus pais contraído matrimónio civil. *

a v ó  &  a v ô
© catarina wheelhouse

Às doze horas e quarenta e cinco minutos do dia vinte e cinco do mês de Outubro do ano de mil novecentos e trinta e seis, no primeiro andar do prédio número nove da rua Tenente Espanca, onde as portas estavam abertas e franqueadas ao público, perante mim Manuel António Príncipe ajudante do Conservador e no seu impedimento legal compareceram: o noivo, Jaime Wheelhouse Basso Marques, de vinte e dois anos de idade, de profissão primeiro sargento cadete, no estado de solteiro, devidamente autorizado pela competente autoridade militar, conforme documento junto ao processo, natural da freguesia de São Lourenço, concelho de Portalegre, domiciliado e residente na Calçada Alta, freguesia de Santa Maria, concelho da Covilhã, filho legítimo de Jaime Basso Marques, natural de Alpalhão, concelho de Nisa, já falecido, e de Miquelina Wheelhouse Marques, no estado de viúva, de profissão doméstica, natural de Lisboa, e residente em Portalegre, e a noiva, Georgina da Conceição Gonçalves Guerra, de dezanove anos de idade, de profissão doméstica, no estado de solteira, devidamente autorizada por seus pais, que estavam presentes neste acto e lhe deram o consentimento, natural da freguesia de S. Pedro, concelho de Évora, domiciliada e residente na rua Tenente Espanca, número nove, primeiro andar, filha legítima de José Carlos Gonçalves Guerra, no estado de casado, de profissão oficial dos Correios, natural de Gafete, concelho de Crato, residente com sua filha, e de Francisca Barbudo da Conceição Guerra, no estado de casada, doméstica, natural de Reguengos, residente com sua filha e declararam, perante mim e as testemunhas adiante nomeadas, que da sua livre vontade desejavam celebrar, como por este acto celebram, o seu casamento, segundo o regime de comunhão de bens.





quarta-feira, 14 de março de 2012

regenerar Braga


obras de requalificação urbana na praça do município, março 2012
© catarina miranda basso


todas as mudanças (principalmente aquelas que alteram o espaço urbano) despoletam nos cidadãos reacções adversas.
porque os bracarenses estão saturados de não serem dados nem achados no que diz respeito às alterações do espaço público (do seu espaço, que condiciona a forma como vive e como viverão os seus), e ainda que tenha havido um esforço em informar os cidadãos (entre outros, através da criação de um portal informativo), estamos ainda longe de sentir que a cidade é nossa, e que a nossa câmara tem de facto vontade de nos ouvir.
tal como já observamos antes, os projectos de execução parecem sair prontos a executar - parecem, porque, na verdade, há sempre imprevistos não acautelados no desenho de gabinete (quer porque esta é uma condição de qualquer obra, quer porque não foi feito um estudo prévio sério, quer porque não foram ouvidos os moradores - aqueles que, de facto, conhecem as ruas da cidade melhor do que ninguém).
importaria, assim, promover a discussão pública dos projectos de remodelação (a exemplo daquela que se irá amanhã realizar na Velha-a-Branca, por iniciativa dos moradores e comerciantes do largo da Senhora-a-Branca) previamente à execução dos mesmos (todos sabemos que existe um período consignado à discussão pública, mas este, tal como as datas em que se realizam as assembleias municipais, não é devidamente publicitado e os prazos normalmente apertados); importaria também, antes de se darem início às obras, informar os cidadãos das alterações de trânsito decorrentes da prossecução das mesmas, bem como informar com clareza moradores e comerciantes (não através deste meio, mas através, por exemplo, duma apresentação pública das intenções, e não delegando nos presidentes de Junta a tarefa de comunicar projectos acerca dos quais os mesmos não terão total entendimento); importaria igualmente aproveitar o ensejo da mudança para assinalar elementos históricos que pertenceram um dia à cidade - porque não aproveitar, por exemplo, o novo lajeado de granito do passeio nascente da rua de Santo António da Praça para inscrever nele a existência da capela de Santo António da Praça?

(é lamentável que a nossa câmara desconheça o significado da palavra cultura - porque aquilo que estão a fazer faz, feliz ou infelizmente, parte da nossa cultura - e para esta cultura há sempre fundos. A nossa cultura não são apenas museus e exposições e preservação do património - parte da cultura para a qual nunca há orçamento)

segunda-feira, 5 de março de 2012

imagens órfãs

As imagens têm pai ou mãe, ou ambos, foram produzidas num determinado contexto e contam algo da nossa história colectiva. Colocar hoje uma imagem online acarreta vários riscos - tornam-se filhas de pai incógnito e, sem as devidas referências ao contexto em que foram produzidas, esvaziadas do seu propósito. O seu lugar no mundo permanece apenas ligado à sua aparência (que tem, igualmente, a sua importância). O seu âmago, a sua alma, voam, como o espírito, ao céu incomensurável do mundo cibernauta. Para aqueles que não entendem a importância da identificação, datação, contextualização de uma imagem (em suma, para aqueles para quem as legendas não têm relevância), eis uma breve história do futuro.

"Estavamos no ano de 2052 e foi produzida uma exposição sobre a cidade de Braga no início do século XX. Produzir esta exposição traduziu-se na pesquisa de imagens da época, na identificação dos lugares, dos cidadãos e na identificação (para além de muitos outros pressupostos) dos proprietários da imagem (que dedicaram parte das suas vidas a investigar, a pesquisar, a selecionar, a recolher, a guardar, a comprar) para que lhes fosse creditada a respectiva propriedade. 
Os investigadores começaram por fazer uma triagem dos eventuais locais onde poderiam encontrar imagens do passado. Percorreram os arquivos da cidade (que tinham ardido sem que restassem cópias digitais dos documentos, que deveriam ter sido guardadas num outro edifício, o que bloqueou esta hipótese), pelo que a internet (entre outras fontes a pesquisar) ter-lhes-á parecido uma importante fonte de informação passível de ser prescrutada. Acontece que a utilização abusiva de muitas imagens que têm dono e autor e data (e que foram usadas indiscriminadamente sem qualquer referência à sua proveniência) tornou a tarefa de as contextualizar em algo impossível de fazer. 
O resultado desta exposição, que se traduziu na impressão de fotografias sacadas da internet  foi uma mera mostra de vários aspectos da cidade - de uma cidade incógnita. Os únicos comentários que se ouviram dizer depois de a contemplar : que gira (ou que feia) que era aquela cidade!"


"colher frutos" para reconstruir a nossa memória (e para fazermos a nossa investigação sobre a história da cidade, quer seja ou não em contextos académicos) implica perguntar, questionar, querer saber. Sempre ouvi dizer que "perguntar não ofende", mas com pena verifico que no mundo virtual da cidade de Braga, de que todos tanto dizem gostar e amar (que cidade espectacular!), todos se fechem em copas quando queremos, sem ofender ninguém, saber mais.
Dedico esta mensagem ao grande investigador Nuno Borges de Araújo, que é, infelizmente, dos poucos bracarenses interessados em salvaguardar a memória da cidade de Braga.

A imagem que a seguir publicamos faz parte da minha colecção particular. É um bilhete postal ilustrado e representa uma vista do Arco da Porta Nova de meados do século XX. Uma imagem dum lugar que ainda existe, mas que já não é assim. Foi fotografado e impresso por J. Arthur Dixon, na Escócia. Tenho todo o gosto que a façam circular, desde que com os devidos créditos.


Arco da Porta Nova, por J. Arthur Dixon. Bilhete postal ilustrado, século XX
© colecção particular de Catarina Wheelhouse





Como referenciar este artigo:
Miranda, Catarina - Imagens órfãs. In Cochinilha [Em linha]. Braga: 2012. [Consult. 2012-03-05].
Disponível na www: <URL: http://cochinilha.blogspot.com>.


sábado, 3 de março de 2012

a cidade de que mais gostamos

"Braga, a linda cidade da Senhora do Sameiro, da Falperra e do Bom Jesus, preguiçosamente situada na mais bela província portuguesa, o Minho, fecundo rincão onde a natureza, pródiga de paisagens verdejantes e águas cristalinas cantando suavemente por entre os milherais, a tocou de graça e formosura". José Valdez
mapa de Braga, Braun by cochinilha
 mapa de Braga, Braun, a photo by cochinilha on Flickr.

mapa (italiano mappa, do latim mappa, -ae, guardanapo, toalha, pano)
1. delineação convencional de uma qualquer extensão da superfície da Terra.
2. lista, relação.
3. quadro sinóptico.

cada um de nós tem dentro de si o mapa da cidade onde vive.
cada um de nós se orienta por um mapa mental que segue o traçado das ruas e das praças, dos caminhos que levam aos lugares de que mais gosta - dos cafés que conhecemos com os avós, do cinema onde vimos o primeiro filme, da pastelaria da esquina pela qual passamos vezes sem fim e onde provamos um dia uma iguaria inesquecível, daquele ponto de vista de onde se vê a montanha e o mar pelo qual nos apaixonamos à primeira vista.
cada um faz os seus percursos conforme a experiência que tem da cidade.
cada um de nós, para chegar ao mesmo sítio, percorre caminhos diferentes.
todos nós podemos imaginar a cidade de braga.
viver a cidade é imaginá-la como gostaríamos que fosse e descobri-la todos os dias como se a víssemos pela primeira vez. viver a cidade é partilhá-la com os outros.

(aceitam-se sugestões dos lugares que não vêm nos guias turísticos, daqueles onde gostamos de levar um amigo que vem de fora, a quem queremos mostrar a genuína cidade de braga)

Publicação em destaque

as fontes discretas

já no distante ano de 2009, Maria do Carmo Serén publicou um artigo sobre a minha tese de mestrado, a que chamou de " as fontes discre...