As imagens têm pai ou mãe, ou ambos, foram produzidas num determinado contexto e contam algo da nossa história colectiva. Colocar hoje uma imagem online acarreta vários riscos - tornam-se filhas de pai incógnito e, sem as devidas referências ao contexto em que foram produzidas, esvaziadas do seu propósito. O seu lugar no mundo permanece apenas ligado à sua aparência (que tem, igualmente, a sua importância). O seu âmago, a sua alma, voam, como o espírito, ao céu incomensurável do mundo cibernauta. Para aqueles que não entendem a importância da identificação, datação, contextualização de uma imagem (em suma, para aqueles para quem as legendas não têm relevância), eis uma breve história do futuro.
"Estavamos no ano de 2052 e foi produzida uma exposição sobre a cidade de Braga no início do século XX. Produzir esta exposição traduziu-se na pesquisa de imagens da época, na identificação dos lugares, dos cidadãos e na identificação (para além de muitos outros pressupostos) dos proprietários da imagem (que dedicaram parte das suas vidas a investigar, a pesquisar, a selecionar, a recolher, a guardar, a comprar) para que lhes fosse creditada a respectiva propriedade.
Os investigadores começaram por fazer uma triagem dos eventuais locais onde poderiam encontrar imagens do passado. Percorreram os arquivos da cidade (que tinham ardido sem que restassem cópias digitais dos documentos, que deveriam ter sido guardadas num outro edifício, o que bloqueou esta hipótese), pelo que a internet (entre outras fontes a pesquisar) ter-lhes-á parecido uma importante fonte de informação passível de ser prescrutada. Acontece que a utilização abusiva de muitas imagens que têm dono e autor e data (e que foram usadas indiscriminadamente sem qualquer referência à sua proveniência) tornou a tarefa de as contextualizar em algo impossível de fazer.
O resultado desta exposição, que se traduziu na impressão de fotografias sacadas da internet foi uma mera mostra de vários aspectos da cidade - de uma cidade incógnita. Os únicos comentários que se ouviram dizer depois de a contemplar : que gira (ou que feia) que era aquela cidade!"
"colher frutos" para reconstruir a nossa memória (e para fazermos a nossa investigação sobre a história da cidade, quer seja ou não em contextos académicos) implica perguntar, questionar, querer saber. Sempre ouvi dizer que "perguntar não ofende", mas com pena verifico que no mundo virtual da cidade de Braga, de que todos tanto dizem gostar e amar (que cidade espectacular!), todos se fechem em copas quando queremos, sem ofender ninguém, saber mais.
Dedico esta mensagem ao grande investigador Nuno Borges de Araújo, que é, infelizmente, dos poucos bracarenses interessados em salvaguardar a memória da cidade de Braga.
A imagem que a seguir publicamos faz parte da minha colecção particular. É um bilhete postal ilustrado e representa uma vista do Arco da Porta Nova de meados do século XX. Uma imagem dum lugar que ainda existe, mas que já não é assim. Foi fotografado e impresso por J. Arthur Dixon, na Escócia. Tenho todo o gosto que a façam circular, desde que com os devidos créditos.
Os investigadores começaram por fazer uma triagem dos eventuais locais onde poderiam encontrar imagens do passado. Percorreram os arquivos da cidade (que tinham ardido sem que restassem cópias digitais dos documentos, que deveriam ter sido guardadas num outro edifício, o que bloqueou esta hipótese), pelo que a internet (entre outras fontes a pesquisar) ter-lhes-á parecido uma importante fonte de informação passível de ser prescrutada. Acontece que a utilização abusiva de muitas imagens que têm dono e autor e data (e que foram usadas indiscriminadamente sem qualquer referência à sua proveniência) tornou a tarefa de as contextualizar em algo impossível de fazer.
O resultado desta exposição, que se traduziu na impressão de fotografias sacadas da internet foi uma mera mostra de vários aspectos da cidade - de uma cidade incógnita. Os únicos comentários que se ouviram dizer depois de a contemplar : que gira (ou que feia) que era aquela cidade!"
"colher frutos" para reconstruir a nossa memória (e para fazermos a nossa investigação sobre a história da cidade, quer seja ou não em contextos académicos) implica perguntar, questionar, querer saber. Sempre ouvi dizer que "perguntar não ofende", mas com pena verifico que no mundo virtual da cidade de Braga, de que todos tanto dizem gostar e amar (que cidade espectacular!), todos se fechem em copas quando queremos, sem ofender ninguém, saber mais.
Dedico esta mensagem ao grande investigador Nuno Borges de Araújo, que é, infelizmente, dos poucos bracarenses interessados em salvaguardar a memória da cidade de Braga.
A imagem que a seguir publicamos faz parte da minha colecção particular. É um bilhete postal ilustrado e representa uma vista do Arco da Porta Nova de meados do século XX. Uma imagem dum lugar que ainda existe, mas que já não é assim. Foi fotografado e impresso por J. Arthur Dixon, na Escócia. Tenho todo o gosto que a façam circular, desde que com os devidos créditos.
Arco da Porta Nova, por J. Arthur Dixon. Bilhete postal ilustrado, século XX © colecção particular de Catarina Wheelhouse |
Como referenciar este artigo:
Miranda, Catarina - Imagens órfãs. In Cochinilha [Em linha]. Braga: 2012. [Consult. 2012-03-05].
Disponível na www: <URL: http://cochinilha.blogspot.com>.
Miranda, Catarina - Imagens órfãs. In Cochinilha [Em linha]. Braga: 2012. [Consult. 2012-03-05].
Disponível na www: <URL: http://cochinilha.blogspot.com>.
Comentários