ruge- ruge in exposição de instrumentos tradicionais portugueses Noite cerrada, saía da igreja da Misericórdia a procissão das Endoenças. Pouco a pouco, apagadas todas as luzes no interior das casas, as varandas e as janelas iam-se enchendo de figuras escoadas a medo na tinta da noite. Mas já ao longe se ouvia um estranho vozear de multidão e incertos fogachos de lumieiras se agitavam, sinistros, na treva espessa: era a ronda dos fogaréus – temido bando popular, precedendo a procissão, que tinha a essa hora de severas contas o inaudito direito de acusar uma cidade inteira... Por isso as almas, as mais lavadas, estremeciam ao sentir aproximar-se esse Bando do Pavor, permitido pelo alto clero com o fim de, à falta de denúncias à inquisição, ser ele, uma vez no ano, o pelourinho andante das mais escondidas vergonhas. Passado o bando e extinto ao longe o último sussurro da turba atroadora, a contrastar com essa algazarra, aparecia, solene e fúnebre, a silen...